Arno Augustin: “Já enxergo o fim dos gargalos de crescimento do Brasil”
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A mesa de encerramento do Fórum Desenvolvimento, Inovação e Integração Regional nesta sexta-feira (6), em Porto Alegre, foi, como qualificou precisamente a mediadora, a redatora-chefe do jornal El País Brasil, Carla Jiménez, "bastante ambiciosa".
Com o título "As chaves para o progresso econômico do Brasil", reuniu no palco o secretário do Tesouro Nacional do Brasil, Arno Augustin, o vice-diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, André Moreira da Cunha, e o executivo da Latam Linhas Aéreas e ex-diretor do Santander para a América Latina, Francisco Luzón.
O painel foi pautado pela fala do secretário Augustin, que fez a primeira intervenção explicando os conceitos e as estratégias adotadas pelo Executivo federal e “as razões pelas quais acreditamos que estão dando certo”.
A linha guia da Presidência foi, conforme Augustin, o diagnóstico de que havia um círculo vicioso no país, segundo o qual, sempre que o Brasil começava a crescer, não chegava longe. Problemas como a falta de energia, os juros elevados que dificultavam investimentos industriais e a volatilidade internacional acabavam interrompendo ciclos de desenvolvimento.
Diante dessa situação, o Governo Federal interviu de maneiras diferentes para gerar um ciclo virtuoso na economia nacional. Augustin citou a criação do Programa de Sustentação do Investimento, uma linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de juros reais “zero ou negativos”, os programas de concessões de infraestrutura logística que já somam R$ 679 bilhões, o Minha Casa, Minha Vida, que alcança mais de 3 milhões de casas entregues, e o Plano Safra, que elevou a produtividade agrícola brasileira substancialmente.
"Em 2002, foram produzidas 96 bilhões de toneladas de grãos, com 40% de área plantada no país. Hoje colhemos 200 bilhões de toneladas, em 56% de área plantada”, exemplificou, mostrando que o ganho em volume é muito superior a variação de área.
A aposta pela qualificação profissional da população também se mostrou necessária, na visão do secretário, que elencou números dos programas de formação do Governo Federal. No Pronatec foram formados 6,7 milhões de brasileiros, o Fies permitiu o acesso de meio milhão de cidadãos ao Ensino Superior, e o Ciência Sem Fronteiras oferece cem mil bolsas para intercâmbio internacional, enumerou.
"O mais relevante é que tudo isso vem sendo feito mantendo a demanda interna do país, a distribuição de renda", salientou.
Para ilustrar essa faceta social, Augustin lançou mão dos dados do PIB per capita, que mostra a elevação do padrão de vida dos brasileiros. Enquanto que entre 1995 e 2002 o valor nominal desse índice passou de R$ 18,1 mil para R$ 18,6 mil (um aumento de 3,2% em sete anos), entre 2003 e 2013 ele cresceu 29,3%, chegando a R$ 24,1 mil. "Até 2022 esse bolo deve crescer outros 33%", complementou.
Na proporção inversa, a dívida pública da União caiu de 60% do PIB em 2002 para 33% do PIB atualmente.
Sua conclusão é que, apesar das dificuldades criadas a partir de 2009 pela crise econômica internacional, há um horizonte grandioso para a nação. “É um conjunto de ações cuja maturação está em andamento. Já enxergo o fim dos gargalos que impediam o crescimento sustentado do Brasil”, comemorou.
Debatedores enfocam reforma tributária
Os debatedores provocaram, mostrando óticas distintas sobre uma eventual reforma tributária. O vice-diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS, André Moreira Cunha, contrapôs a fala de Augustin lembrando da necessidade de que os investidores privados também façam a sua parte. “Isso é um problema estrutural de toda a América Latina: os 10% mais ricos detém entre 40% e 50% da renda. Mas não investem nem 30% de volta em suas atividades lucrativas”, criticou.
Por essa razão, sugeriu o economista, seria necessário pensar "que padrão tributário vamos ter nos próximos anos, inclusive considerando uma eventual taxação de grandes fortunas". "A política de valorização do salário mínimo é altamente positiva, a oferta de crédito também, mas elas não mexeram nesse ponto. A chiadeira seria grande, claro”, completou.
Por outro lado, o ex-vice-presidente do Santander América Latina, Francisco Luzón, pleiteou que as reformas tributárias se deem em outro sentido, que reduzam a carga de impostos cobrados das empresas, que, na sua ótica, é a única maneira de alavancar o crescimento a níveis constantes de 3,5% ou 4%.
Diante da afirmação de Luzón de que “é preciso restaurar a credibilidade do Brasil no mercado financeiro”, Augustin lançou mão de dados de investimentos internacionais nos últimos anos. Ele lembrou, por exemplo, que os valores estrangeiros destinados ao Brasil passaram de US$ 15 milhões, em 2005, para mais de 60 milhões de dólares nos últimos três anos.
“Quando falamos em otimismo ou pessimismo é preciso mostrar números para que a opinião não vire uma tentativa de interferir na política. E quando olhamos esses dados, vemos que o investidor estrangeiro está colocando seu dinheiro no Brasil mais do que nunca”, alfinetou.
Ao final do encontro, a mediadora Carla Jiménez admitiu que o tema renderia um debate muito mais longo. “Vamos que ter fazer um novo fórum para pormenorizar essa questão”, concluiu, ao encerrar o seminário.
Texto: Naira Hofmeister
Edição: Redação Secom (51) 3210.4305