Lula participa de fórum na Capital e defende que Brasil amplie integração com países da América do Sul
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Conferencista no Fórum Desenvolvimento, Inovação e Integração Regional, promovido pelo jornal espanhol El País, em Porto Alegre, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu, na manhã desta sexta-feira (6), que o Brasil acelere o seu desenvolvimento em inovação e tecnologia e que o país, entre outras iniciativas, amplie a integração regional com as demais nações do continente. "Ainda não exploramos nem 10% da integração regional que temos que fazer com a América do Sul”, afirmou.
Lula entende que o Brasil deve assumir sua grandeza e desempenhar o papel de indutor do processo de integração, sugerindo, inclusive, a criação de um fundo de cerca de R$ 2 bilhões para financiamento dos investimentos entre os países da região. O país não pode se comportar como um “paisinho pobre”, disse, pois embora tenha problemas tem também tamanho e condições para isso.
A uma plateia muito atenta, no auditório do Hotel Plaza São Rafael, onde estavam o governador Tarso Genro, secretários de Estado, deputados e empresários, o ex-presidente lembrou que o Uruguai antes queria a integração com os Estados Unidos mas com o fluxo comercial, chegando a US$ 5 bilhões com o Brasil, não pensa mais nisso. Mas para a integração funcionar, ressaltou, os brasileiros também precisam comprar do Uruguai, não apenas vender para o país vizinho, citando o caso dos arrozeiros gaúchos que não querem a importação do produto uruguaio, até porque tem muitos gaúchos que produzem lá, apontou.
Segundo Lula, é preciso aproveitar o século 21, em que não há guerra fria, e sim a situação de um mundo multipolar, para fazer da proximidade com os países vizinhos um grande polo econômico. Ele recordou que, em seu governo, o Brasil optou por diversificar suas relações comerciais. Também defendeu que o país aprofunde ainda mais as suas relações com a África, alertando que países como a China estão investindo muito na conquista de mercados naquele continente, onde vêem grandes perspectivas para o futuro próximo.
Otimisto em relação ao século 21
Ao resumir o tema da sua conferência, "o Brasil no Século 21", Lula disse que há três desafios para o país: aprofundar os investimentos em educação, promover um salto de qualidade em inovação e tecnologia e aprofundar a diminuição das desigualdades. “Sou otimista em relação ao século 21”, disse. “Sou muito otimista, aqueles que estão apostando que o Brasil vai ter qualquer retrocesso vão quebrar a cara”, completou.
Lula pontuou toda sua palestra com dados das realizações de seu governo e da gestão da presidente Dilma Rousseff. Ao falar do primeiro desafio, destacou o levantamento de um organismo internacional, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que apontou o Brasil como o país que mais investe em educação no mundo: eram R$ 36 bilhões em 2002, valor que passou para R$ 104 bilhões em 2013, ou seja, mais que triplicou em 11 anos as inversões no setor.
Neste período, citou, foram criadas 18 universidades, 14 em seu governo e 4 no atual, mais 152 extensões universitárias, levando o ensino público superior para o interior do país, além do Prouni, que beneficia 1,4 milhão de jovens da periferia, e o Fies, que possibilita os estudos de 1,6 milhão de estudantes: “Essa é a revolução que aconteceu na educação brasileira”.
Sobre inovação tecnológica, ressaltou o aumento de doutores no país, de 6.900 para 14 mil, e a ampliação do número de bolsas de doutorado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), de 13 mil para 47 mil. "Num mundo cada vez mais competitivo, é preciso identificar e investir em áreas de excelência", disse Lula, apontando como exemplos onde o país já se destaca as áreas de petróleo e gás. “A palavra-chave nesse campo é 'acelerar', fazer cada vez mais, temos de alcançar a velocidade do mundo ou vamos ficar uma vez mais para trás”.
"Mas investimentos em educação, ciência e tecnologia só fazem sentido se for para levar mais dignidade às pessoas mais pobres, dando a elas condições de viver num país melhor", acrescentou, referindo-se ao terceiro grande desafio do país neste século, do seu ponto de vista, que é a diminuição das desigualdades.
Aumento de investimentos para driblar a crise
Para isso, ao contrário das receitas vigentes nos países da Europa, como Espanha e Portugal, que só agravam os problemas sociais decorrentes da crise, a solução está em gastar mais, investir em programas como o Luz Para Todos, que levou eletricidade a 3 milhões de famílias que ainda não tinham esta facilidade em pleno século 21.
Foram gastos R$ 20 bilhões no programa, um investimento alto para um número relativamente pequeno de pessoas, mas que resultou na geração de 460 mil empregos. Foram instalados um milhão de transformadores, 7,3 mil postes, 700 mil quilômetros de fios, o que daria para enrolar a terra 35 vezes. Em compensação, 80% destas famílias compraram televisores nas cidades, 75% adquiriram geladeiras e ventiladores, entre outros itens. No final, quem mora nas cidades também ganhou com o Luz para Todos, destacou Lula. “O ensinamento desses 11 anos é que é possível incluir os pobres na economia e não tê-los como problema, mas como solução, nós aprendemos a desconcentrar [a renda]”, completou.
O ex-presidente criticou quem fala em crise de confiança no Brasil e apresenta uma visão pessimista sobre o futuro do país. Enquanto a crise iniciada em 2008 já liquidou com 62 milhões de empregos no mundo, o Brasil criou, no mesmo período, 10 milhões de novos emprego, citou. Segundo ele, não existe um único outro país no mundo, além do Brasil, que tenha enfrentado a crise aumentando a renda e os empregos. Além disso, apenas nove países do G20 cresceram mais que 2% no ano passado, entre eles o Brasil, com 2,5%.
Isso mostra, segundo Lula, a grande capacidade do país de resistir a uma conjuntura mundial tremendamente adversa. Ele prevê, inclusive, que nos próximos anos o Brasil vai passar de sétima para a quinta economia do mundo. “Me causa repulsa o complexo de vira-lata, o complexo de inferioridade”, disse Lula, que ainda reforçou: “Se tiver alguém mais otimista que eu com o século 21, vai ter que nascer”. A conferência do ex-presidente teve a mediação do secretário estadual de Desenvolvimento e Promoção do Investimento, Mauro Knijnik.
Texto: Ulisses Nenê
Edição: Redação Secom (51) 3210.4305