Planta de erva-mate gaúcha tem características especiais e dá origem à nova cachaça
Estudos revelam aspectos inéditos da espécie e mostram, na prática, possibilidades de inovação durante oficinas na Expointer
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A erva-mate produzida no Rio Grande do Sul apresenta aroma e sabor exclusivos. Uma pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e a Emater/RS, analisou o perfil químico da planta cultivada na região do Alto Taquari e identificou características inéditas.
Os resultados foram compartilhados em oficinas nos dois sábados da feira, no espaço do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae/RS), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/RS) e da Federação da Agricultura do Estado do RS (Farsul), no Pavilhão Internacional da 48ª Expointer.
Patrimônio cultural
O público pôde conhecer e experimentar as novidades sobre a erva-mate, declarada patrimônio cultural do Rio Grande do Sul em 2023. O estudo confirmou que a planta apresenta variações específicas conforme a região de cultivo. Outra descoberta inovadora vem dos frutos da planta fêmea, antes descartados como resíduos pela cadeia produtiva e agora aproveitados para a produção de cachaça.
Experimentações das bebidas
Durante cada oficina, os participantes receberam dois copinhos com ervas originárias do Alto Taquari. Na sequência, cada um dos 11 inscritos cevou seu chimarrão e comparou as percepções sensoriais.
Segundo a pesquisadora Helen Hackbart, integrante da equipe, cerca de 200 compostos químicos influenciam diretamente no sabor e no aroma da erva-mate, reforçando a singularidade do produto regional. “Identificamos os principais elementos responsáveis pelas notas sensoriais, que podem variar de frutadas a herbais, com nuances de floresta e capim”, explica.
Indicação geográfica
O coordenador de Projetos de Agronegócio do Sebrae/RS, André Bordignon, ressaltou que a pesquisa se conecta ao processo de indicação geográfica, passo importante para a futura denominação de origem da erva-mate gaúcha.
“Tomo chimarrão todos os dias e percebi que não conhecia a fundo a erva-mate. Essa troca de conhecimento é fundamental para fortalecer a identidade e a qualidade do nosso produto”, afirma.

Da erva à cachaça
Os frutos da planta fêmea, até então considerados inúteis para a produção de erva-mate e vistos como um fator de enfraquecimento da árvore em relação ao macho, ganharam nova função.
“Elaboramos um projeto para a produção de cachaça, com 500 litros desenvolvidos em uma planta piloto. Atualmente, investigamos o ponto ideal de maturação dos frutos para garantir a qualidade da bebida”, relata Helen. A pesquisa ainda está em andamento e a nova bebida destilada sequer tem nome definido.
A degustação surpreendeu até mesmo especialistas. A engenheira agrônoma Gabriela Rodrigues Machado, que participou da oficina neste sábado (6/9), aprovou a novidade. “A cachaça produzida com a fruta da erva-mate foi excelente. Embora eu seja engenheira agrônoma, não havia considerado essa possibilidade. A bebida estava adocicada e agradável. Apesar da acidez, apreciei muito o resultado, valorizando a doçura e as nuances frutadas”, afirma.
Oficinas de vinhos e queijos
Além das oficinas sobre erva-mate, o Sebrae/RS promoveu três atividades diárias ao longo dos oito primeiros dias da Expointer, abordando a harmonização de queijos e vinhos gaúchos. As oficinas reuniram cerca de 300 participantes e tiveram como objetivo valorizar a diversidade da agroindústria gaúcha, aproximando produtores e consumidores.
Terezinha Valdez Gaesk, de Águas Claras, participou das atividades e destacou o aprendizado. “Gosto de culinária e aprendi bastante nas oficinas. O cozinheiro compartilhou dicas valiosas em encontros rápidos, com degustação, que nos ajudam a refletir sobre o que consumimos no dia a dia”, observa.
Texto: Elstor Hanzen/Ascom Expointer
Edição: Anderson Machado/Ascom Expointer