Entrevista com Giuseppe Cocco, palestrante do seminário Sistema Estadual de Participação Cidadã
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Na esteira das revoltas no Egito e na Líbia, surge a questão: as redes sociais promovem revoluções ou são meros instrumentos dessas? O professor Giuseppe Cocco vê por trás desses fenômenos a possibilidade do surgimento de um novo sujeito social, capaz de renovar a democracia. Formado em Ciências Políticas pela Universidade de Paris VIII e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele é uma das atrações do seminário Sistema Estadual de Participação Cidadã: Bases Conceituais. O evento, promovido pelo Governo do Estado, iniciou nessa quinta e tem sequência nesta sexta (25), no auditório do Ministério Público Estadual. Confira trechos da entrevista com o professor:
O que será abordado pelo senhor no seminário de Sistema Estadual de Participação Cidadã?
Giuseppe Cocco - Vou falar das redes sociais, do papel cada vez mais importante da internet do ponto de vista das novas formas de socialização. Tentar enfatizar este novo papel, que vemos, às vezes, discutido na imprensa, na sociedade, nos movimentos sociais e nos partidos, a partir de alguns eventos, como a eleição do Obama, a reeleição de Lula, a eleição da Dilma e, agora, nos eventos no norte da África. Por um lado temos a emergência das redes sociais, da internet, este fato que a comunicação não é mais hierarquizada, embora continue sendo, e que tem uma comunicação que vaza sem controle. Mesmo na Líbia, se estivéssemos lá há 20 anos, o ditador fecharia as portas e não saberíamos o que estava acontecendo, ou saberíamos muito tempo depois. Hoje temos acesso de forma imediata, qualquer um com telefone celular pode tirar uma foto e enviar pela internet, a comunicação vaza. Ao mesmo tempo, todo esse debate, essas revoluções, são revoluções 2.0 ou não? A crise determinou estes eventos? A reflexão que temos de fazer é sobre um novo paradigma entre a circulação e produção e as novas formas de trabalho.
Como se consegue dentro do desenvolvimento participativo trabalhar com as redes sociais?
Cocco - Se conseguimos fazer a relação entre a internet e seu impacto na dinâmica política social, com as novas formas de trabalho, se não temos uma análise de trabalho no que diz respeito a sua relação, a este funcionamento das redes sociais, acabamos perdidos entre o ceticismo ou a apologia do instrumento da rede. Por um lado se tem a difusão das novas tecnologias da informação da comunicação, das redes sociais, por outro, nós temos um novo tipo de capitalismo e um novo tipo de trabalho. É aqui que se faz a junção, as revoluções na África do Norte, elas são revoluções que usam a comunicação, mas também tem como sujeito principal uma nova composição do trabalho, intelectualizado, urbanizado na maioria dos casos e que unificam toda a zona do Mediterrâneo. Entre a apologia dos instrumentos e o ceticismo diante deles, temos de ver o que está por trás: a possibilidade de um novo sujeito social, um novo sujeito do trabalho, capaz de renovar as práticas da democracia participativa. Não se trata apenas do orçamento participativo, mas também do governo colaborativo, da produção colaborativa.
Qual a importância de um seminário como este, que promove um debate sobre o Sistema de participação cidadã?
Cocco - Esse método de trabalho praticado aqui, neste início de Governo, me parece particularmente adequado. Mostra uma grande determinação em retomar essa experiência, em inovar e ficar na ponta das transformações democráticas, como ocorria com Porto Alegre. Acho que esse seminário, esse esforço logo no início do Governo, indica determinação do RS em voltar a ser um laboratório de inovação democrática. Faz parte de um governo de movimento, de mobilização da sociedade.
A programação completa do seminário está disponível na página.
Foto: Eduardo Seidl/Palácio Piratini