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Painel aborda desafios à presença da mulher nos espaços de poder

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Painel mulheres Seplag
A executiva Adriana Celestino, a secretária de Planejamento, Leany Lemos, e a chefe de Polícia, delegada Nadine Anflor - Foto: Carolina Greiwe / Ascom Seplag

Apesar de importantes avanços na luta por igualdade de gênero, o viés machista que permanece arraigado ao comportamento da sociedade segue como um obstáculo à participação de mulheres em postos de liderança. “É algo que persiste em todas as áreas e de modo sistêmico, o que exige de todas nós superar desafios diários”, disse a secretária de Planejamento, Orçamento e Gestão, Leany Lemos, no painel “Mulheres – esse papo me interessa”, na tarde desta terça-feira (10/3), no Centro Administrativo do Estado, na capital.

O evento abordou também as situações de violência contra as mulheres e os desafios no mercado de trabalho, em especial em segmentos em que a presença masculina é predominante. A atividade fez parte da programação alusiva ao Mês da Mulher organizada pela Seplag.

A secretária apresentou um apanhado de situações de preconceito sofrido por mulheres de altos postos de comando do país, o que evidencia que o machismo prossegue. “Até pouco tempo atrás, as mulheres nem podiam atuar no serviço público”, resumiu Leany, ela própria alvo recorrente de comentários do tipo “secretária de qual secretário?”.

Primeira mulher a ocupar a área de Planejamento no governo do Estado, Leany destacou pontos que colocam a mulher em desvantagem no Rio Grande do Sul na comparação com os homens em termos de ganhos salariais (26% em média menos que os homens), mesmo que tenham melhor formação.

Outro ponto que abordou se relaciona às atividades que a mulher realiza sem ser remunerada (afazeres domésticos ou cuidados de outras pessoas): em média, as gaúchas reservam 20,4 horas semanais para estas situações, ao passo que os homens, 11,6 horas.

A secretária apresentou um estudo o qual mostra que a mulher representa 62% da força de trabalho no governo do Estado (em um universo de pouco mais de 120 mil servidores ativos). Contudo a distribuição de postos de chefia é desigual: em apenas 11 das 24 secretarias é maior a presença delas nos postos de comando.

Diversidade nas equipes

Atuando há 17 anos num segmento dominado pela presença masculina, a advogada Adriana Celestino trouxe ao painel sua experiência pessoal diante dos desafios que enfrentou. “Sou minoria duas vezes: mulher e negra. Por isso acho importante falar sobre este tema para desmistificar crenças”, afirmou.

Para Adriana, a mulher precisa abandonar um comportamento que ela define como autossabotagem ao não aceitar cargos de chefia mesmo estando qualificada. “Sempre achamos que não estamos preparadas, mas estamos evoluindo", acrescentou.

Como diretora comercial da Incorporadora Cyrela e no comando de uma equipe de mais de 370 funcionários nos três Estados do Sul, Adriana disse que vem adotando na empresa o recrutamento às cegas, analisando as qualificações antes de conhecer o sexo do candidato. “Isso cria uma diversidade nas equipes”, destacou.

Otimista com a evolução das conquistas das mulheres, ela aponta o respeito e a empatia como fatores importantes para superar as diferenças. “É um movimento que não tem como parar. Não se trata de discutir gênero, mas sim pessoas”, afirmou.

Violência contra a mulher

Com uma taxa de homicídios muito acima da média nacional, a violência sofrida pelas mulheres foi tema central da abordagem da chefe da Polícia Civil, Nadine Anflor. A delegada trouxe um perfil das vítimas de feminicídios no ano passado no RS, mostrando que 74% dos casos ocorreram no ambiente familiar, com maior frequência aos sábados e às segundas-feiras.

Apenas quatro das vítimas estavam com medida protetiva, quando o potencial agressor deve se manter afastado por ordem judicial. “Acredito muito neste instrumento de proteção prevista na Lei Maria da Penha e precisamos avançar numa grande rede de acolhida das mulheres sob risco da violência”, disse a delegada, também a primeira da sua classe a ocupar o cargo máximo da Polícia Civil gaúcha. A dependência financeira das vítimas em relação ao agressor é um desafio importante, segundo ela.

Nadine apresentou um rápido histórico da presença das mulheres na Polícia Civil, desde os primeiros ingressos na década de 1970 até a nomeação das três primeiras delegadas, isso apenas em 1988. “Estes avanços se devem muito pela luta das mulheres. Começou quando não se aceitou mais homens realizando a revista em mulheres”, descreveu. A necessidade de delegacias especializadas no atendimento da mulher, acrescentou, serviu também para que a instituição mudasse o seu perfil antigamente restrito aos homens.

A chefe de Polícia instigou a plateia feminina que compareceu ao evento a aceitar desafios sempre que as oportunidades aparecerem, tanto no serviço público como no mercado. “Meninas, deixem suas digitais no mundo”, exaltou.

Texto: Pepo Kerschner/Ascom Seplag
Edição: Marcelo Flach/Secom

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