Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Início do conteúdo

Memorial dos Lanceiros Negros resgatará histórico da chacina dos Porongos

Publicação:

A assinatura de um protocolo de intenções entre a Secretaria de Estado da Cultura, a Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura e a Prefeitura de Pinheiro Machado, nesta sexta-feira (14), em Cerro dos Porongos, assinala o início da construção de um memorial que homenageia os Lanceiros Negros, escravos que participaram da Revolução Farroupilha. O documento prevê a realização de um concurso público nacional para a elaboração de um anteprojeto de arquitetura e paisagismo, visando à construção do memorial, a ser inaugurado em 14 de novembro de 2004. A cerimônia terá também o lançamento de um calendário de eventos como resgate histórico da chacina dos lanceiros farroupilhas pela passagem dos 160 anos no próximo ano. Outra meta do protocolo é captar recursos das empresas privadas, por iniciativa da Prefeitura de Pinheiro Machado, para a construção em uma área de Porongos. Por parte do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, será elaborado um estudo para providenciar o tombamento do terreno em que ocorreu o assassinato dos negros numa emboscada comandada pelo general David Canabarro. A chacina em Porongos aconteceu por volta das duas horas da madrugada de 14 de novembro de 1844. Nesse horário desta sexta-feira (14), haverá um vigília das entidades de defesa da cultura e da dignidade negras, que tomaram a decisão de lutar pela construção do memorial. Está prevista, no local, a partir desta quinta-feira (13), às 18h, uma concentração dessas entidades num tablado montado pela Prefeitura com apresentação de um piquete do CTG dos Lanceiros Negros. Uma exibição de maçambique, manifestação da cultura popular de Osório, também faz parte dos eventos. Na sexta-feira, ao meio-dia, a cerimônia terá toque de tambores e minuto de silêncio em desagravo aos soldados negros.. O fundador do Movimento Quilombista Contemporâneo do Rio Grande do Sul, Waldemar de Moura Lima, afirma que a construção do memorial e o tombamento de cerca de nove hectares de terras onde ocorreu a chacina servirão para desmentir versões históricas sobre uma batalha entre as forças do Império e os lanceiros negros. A versão, segundo o professor, é falsa porque os negros foram desarmados pelo general David Canabarro, confinados ao cerro e dizimados, sem condições de defesa. Podem ter sido fuzilados até 1200 lanceiros, incluindo mulheres e crianças. Para Moura Lima, o resgate histórico não só interessa aos negros, mas a todos os que lutam pelas liberdades humanas. Os lanceiros aceitaram participar da Revolução Farroupilha por ter-lhes sido prometida a liberdade. Foram duplamente traídos. Além de terem sido dizimados, os que conseguiram fugir foram levados ao Rio de Janeiro para continuarem a ser escravos do Império. O professor acredita que imperiais e farroupilhas foram vitoriosos na Revolução Farroupilha. Os únicos derrotados foram os negros. A paz de Ponche Verde foi selada com o seu sangue. O conchavo entre o Império e os farroupilhas, com a intenção de dizimar os lanceiros, até os confinou num acampamento no hoje Cerro dos Porongos, situado, na época, na fronteira com o Uruguai, o que demonstra que a intenção era mesmo a de esconder a hecatombe. O movimento pelo resgate histórico de Porongos é uma iniciativa do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, do Centro Cultural Cândido Velho, de Guaíba, do Movimento Zumbi, de Pinheiro Machado, do Movimento Quilombista Contemporâneo, e da Associação Comunitária dos Remanescentes do Quilombo Morro Alto, de Maquiné.
Portal do Estado do Rio Grande do Sul