Mais de 12 mil pessoas já visitaram o sobrado de Erico Verissimo
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A exposição que recria o sobrado imaginado por Erico Verissimo em o Tempo e o Vento pode ser visitada até 17 de dezembro no Centro Cultural CEEE Erico Verissimo. O CCCEV está aberto das 10 às 20h30min até o final da 51º Feira do Livro de Porto Alegre. A partir do dia 16, o horário de visitação volta a ser de terça à sexta-feira, das 10 às 19 horas e, no sábado, das 11 às 18 horas. Mais de 12 mil pessoas já visitaram o sobrado, exposição cenográfica que integra as atividades comemorativas do centenário de nascimento de Erico Verissimo, promovidas pelo Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV), em Porto Alegre. No cenário imaginado por Erico, o espectador faz um passeio guiado (por monitores com lanternas) pelos hábitos e costumes do gaúcho do século XIX, proporcionando uma experiência física e sensorial. Todos os espaços da casa mostram a situação limite em que os ocupantes da casa viviam naquele período, retratada pelo autor no episódio que atravessa (em sete partes) os dois volumes de o continente, primeira parte da trilogia o tempo e o vento. O sobrado, concebido pelo artista plástico e cenógrafo Élcio Rossini, e integrante do Projeto Centenário Erico Verissimo - Algumas Luzes Nunca se Apagam, pode ser visitado até 17 de dezembro, data em que o escritor Erico Verissimo completaria 100 anos. O CCCEV está localizado na rua dos Andradas, 1223, em Porto Alegre, e fica aberto, diariamente, das 10 às 20h30min até o final da feira do livro, dia 15 de novembro. A partir do dia 16, o horário volta a ser de terça à sexta-feira, das 10 às 19 horas e, no sábado, das 11 às 18 horas. O cenário do sobrado recria o ano de 1895 na província de Santa Fé, que encontra-se cercado por adversários políticos de Licurgo Cambará. No local, estão sitiados o próprio Licurgo, sua esposa Maria Alice, seus filhos Rodrigo e Toríbio, a cunhada Maria Valéria, Bibiana Terra, alguns empregados da família e companheiros de revolução. A visita à exposição começa diante da fachada do Sobrado e propõe ao público um percurso por esse espaço arquitetônico que é, ao mesmo tempo, casa, fortaleza e, pela circunstância do cerco, prisão. Na entrada do imponente casarão, uma pequena escada conduz até a sala principal, ambiente que está com as janelas fechadas e recebe a luz do sol por pequenas frestas, onde é possível enxergar a praça, a igreja com seu campanário e os corpos caídos no chão, mortos sem sepulcro, que ninguém se atreve a recolher. Logo depois da sala, está a cozinha, com a grande mesa de madeira, o fogão de barro, a talha de água vazia, os tachos de cobre, a lenha empilhada ao lado do fogão e o insistente assobio do vento, como uma assombração para as crianças, uma ameaça real e imediata para os homens e um prenúncio para as mulheres. Da janela da cozinha, avista-se o quintal do casarão, onde está o poço e, caído, um homem morto. O cenário mostra que não há mais água nem cachaça. No local, restam, apenas, para saciar a fome e a sede, algumas laranjas. Após a cozinha e descendo uma escada, chega-se na despensa. O lugar é totalmente escuro, praticamente nada se vê, mas pode-se ouvir a respiração do soldado gravemente ferido, Tinoco, já sem esperanças, à espera da morte que um correligionário, Antero, por vingança particular, tem prazer em anunciar-lhe. Nesse ambiente, Antero risca um fósforo, para ver melhor o rosto de Tinoco, e o agride com palavras. O ferido está com os músculos enrijecidos, sem força para responder. O fósforo se apaga, Antero acende outro e continua a ameaçar Tinoco. O ferido geme e Antero cospe no rosto do ferido. Depois, vai embora e deixa Tinoco entregue à própria sorte e à escuridão. Saindo da despensa, o visitante da exposição sobe as escadas e chega no outro andar, onde encontra o quarto das crianças (Toríbio e Rodrigo, os filhos de Licurgo e Alice, netos de Florêncio). A presença ruidosa do vento faz as vidraças baterem e um pedaço de madeira da janela, quebrado pelo tiroteio, agita-se continuamente, interceptando a luz do sol, o que produz sombras nas paredes do quarto. São essas sombras que, associadas ao medo natural e inevitável - sobretudo pela situação tensa a que as crianças estão submetidas - despertam os fantasmas da imaginação infantil. É como se o olhar dos meninos deformasse as sombras e visse, no movimento desse pedaço de madeira, as assombrações que habitam o imaginário popular. Rodrigo e Toríbio enxergam figuras de lendas gauchescas que se formam nas paredes do aposento. O percurso segue pelo quarto de Bibiana Terra, viúva do Capitão Rodrigo, que fica balançando-se numa cadeira e pensando na guerra, nos mortos, na memória de tantos fatos, e embaralha fantasia com realidade, e é finalizado com a chegada dos visitantes, mais uma vez, à sala principal do sobrado, de onde pode-se ver o oratório, refúgio, especialmente para as mulheres da casa, que rezam pelo retorno de seus homens e pelo fim do conflito.