Jornalista fala do protagonismo das mulheres na Legalidade
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Nas ruas, a presença feminina foi visível em passeatas, protestos, mobilizações e até em procissões pedindo a volta do país à normalidade, de 25 de agosto a 7 de setembro de 1961, no episódio conhecido como o Movimento da Legalidade. Naqueles 12 dias em que a população gaúcha foi às ruas pela defesa da Constituição e posse do vice-presidente João Goulart, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, a Legalidade não teve entre seus personagens apenas homens, mas muitas mulheres que acompanharam os seus maridos ou atuaram diretamente no movimento.
Entre mulheres ilustres, como Neusa e Francisca Brizola (esposa e irmã de Leonel Brizola), Jurema da Rocha e Mila Cauduro (esposas dos secretários da Justiça e Educação, Francisco Brochado da Rocha e Raul Cauduro, em 1961), Lara de Lemos (coautora do Hino da Legalidade), Ione Risco (mulher de Raphael Risco, secretário do PTB), estava Erika Coester Kramer. A estudante de jornalismo, na época com 23 anos, teve papel fundamental dentro dos porões do Piratini. Além de trabalhar nas pautas do movimento, traduzia para o alemão os discursos e informativos.
Natural de Pelotas, Erika trabalhou nos porões do Piratini durante 12 dias, e conta que os estudantes de jornalismo foram chamados para fazer parte da equipe de comunicadores da Legalidade, já que os profissionais estavam ocupados com os veículos de comunicação da época. No inicio, nós fazíamos algumas escutas dentro de ondas curtas e médias, para ver o que o mundo estava falando do movimento, recorda. Quando foi implantada a Cadeia da Legalidade, Erika tinha que produzir 24 horas de programação com uma equipe de 20 jornalistas.
A equipe que trabalhava nos porões do Palácio sobreviveu. com muito café, sanduíche e cigarro. Cochilávamos nas cadeiras e nos mantínhamos no porão por causa da tensão e ameaças de bombardeio, lembra, dizendo que era capaz de reagir e trabalhar muito mais do que 24 horas sob a tensão que vivia. Não senti medo. Estávamos servindo a uma causa, tínhamos a solidariedade do grupo. Tínhamos um dever a cumprir ressalta ela. Como estudante de jornalismo, Érika sabia da chance e missão que estava tendo. O sono e cansaço não tinham importância naquela época.
A relação do então governador Leonel Brizola com os profissionais que estavam no porão era bastante amistosa. Conforme Érika, Brizola aparecia de madrugada nos porões, fumava um cigarro, tomava um café, perguntava como todos estavam e dava apoio. Eu tenho certeza que ele não dormia, diz Erika, lembrando da sala de redação improvisada que se tornou fonte para todos os veículos de comunicação, já que para ela a grande vitória da legalidade foi à mobilização radiofônica.
No meio de tantas histórias e emoções, a jornalista lembra do momento em que anunciaram o possível bombardeio ao Palácio e da própria instituição da Cadeia da Legalidade, principalmente quando fazia a locução dos programas em alemão. Recorda de quando foi feito o acordo para Jango assumir a presidência. Deram-nos ordem para descansar, disponibilizando a residência do governador, começamos a correr para pegar as melhores acomodações. Eu fiquei na cama do casal, com mais dois colegas. Não demorou mais de meia hora e chegou alguém dizendo que poderíamos descansar em casa, estava tudo resolvido.
Atividades preparadas
O Governo do Estado preparou uma série de atividades para marcar os 50 anos do Movimento da Legalidade, um dos episódios mais significativos da história da democracia brasileira, comemorados em agosto deste ano. Já está disponível o Site da Legalidade, que pode ser acessado no endereço www.legalidade.rs.gov.br, com todo o conteúdo produzido pelo governo durante as comemorações. Também será lançado um Foto-Livro intitulado Os 50 anos da Legalidade em Imagens, no dia 29 deste mês; e a exposição de totens em prédios históricos do centro de Porto Alegre com fotos sobre o movimento.
No dia 5 de setembro, será inaugurado o Memorial da Legalidade, instalado nos porões do Palácio onde funcionou, em agosto de 1961, a Rede da Legalidade, e que começará a fazer parte da visitação oficial do Piratini. No local, todo reformado, os visitantes terão acesso a um computador para pesquisas, inclusive no próprio portal administrado pelo Estado. Além disso, preparou o Musical da Legalidade, nos dias 27 e 28, em um imenso palco montado na frente do Palácio, às 20h, e no dia 1º, no Theatro São Pedro, às 21h.
A Legalidade foi um movimento liderado pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, para assegurar a posse do vice-presidente João Goulart, após a renúncia do presidente Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961.
Texto: Daiane Roldão
Foto: Cláudio Fachel
Edição: Redação Secom (51)3210-4305