Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande é guardiã natural das águas e aliada dos projetos estruturantes do Estado
Unidade de Conservação protege ecossistemas vitais, espécies ameaçadas e regula o abastecimento hídrico da Região Metropolitana
Publicação:

O Rio Grande do Sul vem enfrentando uma série de eventos climáticos extremos ao longo dos últimos anos. Em duas décadas, foram pelo menos seis estiagens e, desde 2023, cerca de dez temporais com altos volumes de chuvas. Fenômenos severos, acentuados pelas mudanças climáticas.
A grande variação da disponibilidade hídrica tornou-se uma preocupação frequente da população, dos produtores rurais e dos gestores públicos. Diante de cenários cada vez mais desafiadores, o governo gaúcho vem implementando políticas públicas de incentivo à reserva de água e de adaptação para a resiliência climática.
Área é aliada natural na gestão das águas
O que poucos sabem é que uma das unidades de conservação administradas pelo governo do Estado, por meio da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), a Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande (APABG), é uma aliada natural na gestão das águas, sendo capaz de aumentar a segurança hídrica, sobretudo na região metropolitana de Porto Alegre.
Localizada entre os municípios de Viamão, Glorinha, Gravataí e Santo Antônio da Patrulha, a APA cobre mais de 136 mil hectares, o equivalente a 190 mil campos de futebol, e representa mais de 60% da área da bacia hidrográfica do Rio Gravataí.
Função dos banhados é semelhante à de grandes barragens
Os banhados que compõem a APA — como o Banhado Grande e o Banhado dos Pachecos — funcionam como reservatórios naturais, armazenando as chuvas e liberando-as gradualmente ao longo do tempo. Esse processo é essencial para regular o fluxo do Rio Gravataí, evitando enchentes em períodos de chuva intensa e contribuindo para a redução dos riscos ao abastecimento durante as estiagens.
Conforme consta na página do Comitê Gravatahy, responsável pela gestão da bacia, a função ecológica desses banhados é semelhante à de grandes barragens, mas com um diferencial: eles fazem isso de forma natural, sem impacto ambiental. As áreas úmidas também atuam como filtros naturais, impedindo que poluentes agrícolas e urbanos cheguem ao rio.
Convergência com o Plano Rio Grande
A APA do Banhado Grande demonstra que a própria natureza é uma grande aliada na mitigação e adaptação resiliente frente a eventos climáticos extremos. A área desempenha funções semelhantes às previstas em programas estruturantes do Governo do Estado, como os Estudos e Soluções Baseadas na Natureza (SBNS).
O projeto propõe intervenções que utilizam a natureza e as funções naturais de ecossistemas saudáveis para enfrentar os desafios mais urgentes do nosso tempo, com benefícios na infraestrutura e na qualidade de vida, proporcionando mais conforto, segurança e sustentabilidade no espaço urbano, garantindo bem-estar e saúde à população.
“As iniciativas do Plano Rio Grande dialogam diretamente com a função ecológica da APA, que já atua como sensor natural de variações climáticas e barreira contra eventos extremos. A preservação da APA, portanto, é importantíssima visto que ela complementa as ações em andamento em infraestrutura hídrica,” comenta a titular da Sema, Marjorie Kauffmann.
Liderado pelo governador Eduardo Leite, o Plano Rio Grande é o programa de Estado criado para proteger a população, reconstruir o Rio Grande do Sul e torná-lo ainda mais forte e resiliente, preparado para o futuro.
Proteção da biodiversidade
A APA do Banhado Grande é de uso sustentável, ou seja, é possível utilização sustentável da área desde que respeitado o plano de manejo. Espécies raras habitam a unidade, entre elas os peixes anuais. Adaptados a viverem em ambientes temporários — como pequenas poças que se formam durante o período chuvoso— possuem um ciclo de vida extremamente curto. Seus ovos permanecem dormentes no solo durante a estiagem e eclodem com o retorno das águas. Essa estratégia de sobrevivência os torna indicadores naturais da saúde dos banhados.
Segundo pesquisas do Plano de Ação Territorial (PAT) da Sema existem pelo menos 50 espécies no Rio Grande do Sul, sendo 12 delas ameaçadas de extinção. Na APA do Banhado Grande, a conservação desses pequenos vertebrados é estratégica, pois sustentam a cadeia alimentar, ajudando a manter o equilíbrio ecológico local.
No núcleo da APA, é possível encontrar um santuário ecológico: o Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos, área de proteção integral também administrada pela Sema. Entre os habitantes mais emblemáticos do território está o cervo-do-pantanal, maior cervídeo da América Latina, ameaçado de extinção.
“Proteger o Banhado Grande é garantir não apenas a sobrevivência de espécies únicas, mas a qualidade de vida de milhões de pessoas que dependem dos serviços ecossistêmicos que ela oferece. Mais do que um abrigo para a fauna e flora, o Banhado Grande é um sistema vital para a regulação hídrica, influenciando diretamente o abastecimento de água e a qualidade de vida de milhares de pessoas na Região Metropolitana de Porto Alegre,” finaliza Cátia Viviane Gonçalves, diretora de Biodiversidade da secretaria.
Texto: Alisson Santos/Ascom Sema
Edição: Secom