Solidariedade e compromisso social
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Enfrentamos hoje, no Brasil, três pandemias: a do vírus, a da fome e a da politização da pandemia. Isso pode levar o país ao caos social e a consequências desastrosas das quais ninguém estará livre. Não há contrato social que resista à fome.
Como ex-secretária de Trabalho e Assistência Social e atual secretária de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, é minha obrigação compartilhar a visão que adquiri trabalhando nessas áreas, e na militância na causa animal.
Sabemos que o setor público tem limitações burocráticas que não atendem ao tempo das necessidades prementes, mas a visão humanitária de um gestor público é de grande valia na condução das crises.
O governo do Estado tem-se mostrado sensível à situação extrema que se instalou no país e no Estado, e iniciativas como o Auxílio Emergencial Gaúcho, a ampliação dos valores passados às entidades sociais pelo programa Nota Fiscal Gaúcha, programas como o PopRua, RS TER e RS TER Mulheres, mostram seu esforço e seus acertos para responder às urgências.
Mas o que faz a diferença é a participação da sociedade e suas iniciativas, que se tornam preciosas pontes entre os que mais precisam e os que mais têm. São entidades, empresas e individualidades agindo numa rede poderosa de auxílio aos despossuídos e de ativismo contra a miséria e a fome que se radicalizaram com a pandemia.
Temos de apoiar, participar e estimular novas e mais práticas desta inteligência solidária que entende que jamais uma nação será próspera e civilizada com esse enorme déficit humano de talentos desperdiçados e com este saldo de fome e de necessidades básicas não atendidas.
A riqueza de um país precisa circular como o sangue no corpo humano, para mantê-lo vivo e saudável. O tão citado empreendedorismo não pode, sob pena de fracassar como prática econômica, desprezar a importância de inserir a experiência das periferias no produto da inteligência nacional. De nada vai nos servir a tecnologia avançada se, no fim das contas, não for programada e usada para deletar desigualdades sociais.
Leio que a ONG Gerando Falcões, de São Paulo, montou um curso de formação social voltado aos herdeiros de empresários importantes e abonados, “na esperança de que esta elite desenvolva poder social além de poder econômico para que possa combater desigualdades”. Notícias como estas estimulam a esperança de que, apesar de tudo, da crise e dos discursos segregacionistas, ainda assim poderemos sair desta situação com um comprometimento social evoluído, de todos para todos.
Uma força racional e generosa ao mesmo tempo, que possa trazer um alívio aos desalentados sociais e uma saída, a única possível, para o Brasil.
Secretária de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos