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Museu Histórico Farroupilha se prepara para receber acervo de mil peças

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Acervo de armas que estão em processo de catalogação antes de serem entregues ao Museu Histórico Farroupilha - Foto: Rafael Varela/Ascom Sedac

Na primeira capital da República Rio-Grandense, Piratini, uma instituição de mais de seis décadas guarda um acervo que ajuda a entender a construção da identidade gaúcha: o Museu Histórico Farroupilha. Ele já completou 66 anos, e sua diretora, Francieli Domingues, não poderia prever que um contato mediado pelas redes sociais resultaria em uma doação de peso para ampliar o acervo, que conta atualmente com cerca de 600 peças. Um gaúcho aficionado pela saga farroupilha se colocava à disposição para doar materiais da mais alta cotação histórica: 988 peças, resultado de mais de 20 anos de colecionismo.

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Álbum de figurinhas do Centenário da Revolução Farroupilha, lançado em 1945 - Foto: Solange Brum/Ascom Sedac

Desde maio de 2019, Volnir Júnior dos Santos, gaúcho de São Francisco de Paula, conhecido nas redes sociais como Tchê Voni, sinalizava o desejo de doar o acervo para o Museu Farroupilha. Foi quando Francieli passou a se comunicar com o empresário do ramo hoteleiro, que vive há 19 anos em Natal, no Rio Grande do Norte.

Ao ter conhecimento da possível doação, a secretária da Cultura, Beatriz Araujo, manteve contatos telefônicos com o empresário. O colecionador esperou até 11 de setembro – mesma data em que foi proclamada, em 1836, a República Rio-Grandense – para registrar em cartório e enviar o documento ratificando sua decisão. Beatriz e Francieli viajaram em outubro para conhecer o doador e o acervo, em Natal.

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Parte do acervo é constituída por livros técnicos e históricos referentes à Revolução Farroupilha - Foto: Rafael Varela/Ascom Sedac

Lá, foram recebidas por um gaúcho com pilcha completa, que as levou ao ambiente da residência onde enfileirava os 29 volumes que acondicionavam a coleção, totalizando 401 quilos. “Foi um momento de grande alegria e emoção, uma vez que estávamos diante de peças históricas de tamanha relevância, que mudariam para sempre o Museu Histórico Farroupilha de Piratini, bem como contribuiriam para aprofundar o conhecimento acerca da saga farrapa", recorda Beatriz.

Após a consolidação das tratativas, a secretária se empenhou para trasladar o acervo até Porto Alegre, uma vez que, antes de ser levado para Piratini, o material deve passar por catalogação e ser adicionado ao patrimônio do Estado. Para isso, contou com a intermediação do deputado federal Ronaldo Santini, o qual viabilizou o transporte aéreo com a Força Aérea Brasileira (FAB) e terrestre com o Exército. Dois meses depois, a coleção chegou ao Rio Grande do Sul.

Francieli lembra que o valor das peças e a nobreza do gesto do colecionador comoveram a equipe. A coleção é composta por itens de valor museológico arquivístico e bibliográfico incalculável. “São centenas de livros de grande qualidade técnica, alguns raros, e artefatos como balas de canhão, armamento de época e outras raridades, entre elas moedas com a cunhagem da República Rio-Grandense e o passaporte que dava acesso à república farrapa durante o período da Revolução Farroupilha”, conta. “Trata-se de relíquia cultural, patrimônio de todos os gaúchos. Uma doação altruísta que configura uma nova história para o Museu Farroupilha, agora assinada a próprio punho pelos farrapos. É a parte da República Rio-Grandense que retorna a sua primeira Capital.”

Corpo técnico

A fase atual é de catalogação, trabalho minucioso realizado por técnicos da Diretoria de Memória e Patrimônio da Secretaria da Cultura (Sedac). “A ideia é catalogar todas as peças. O doador nos passou uma lista com a descrição dos materiais. Desta forma, pretendemos abrir uma caixa de cada vez, identificar os itens a partir da lista encaminhada, fotografar, numerar as peças e preencher uma planilha, já elaborada pelos técnicos da secretaria”, explica o assessor especial de Memória e Patrimônio da Sedac, Eduardo Hahn. Após a catalogação, as peças serão acondicionadas, conforme as diretrizes dos conservadores, e novamente encaixotadas para o transporte até o Museu Farroupilha.

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Assessor especial de Memória e Patrimônio da Sedac, Eduardo Hahn, trabalha na catalogação das peças - Foto: Rafael Varela/Ascom Sedac

Enquanto ocorre a catalogação do acervo em Porto Alegre, são realizadas melhorias físicas na reserva técnica do museu, em Piratini, que impactarão no mobiliário e na segurança. Também está previsto novo mobiliário expositivo. O objetivo é qualificar a guarda e a exposição dos objetos – ações que serão executadas com recursos provenientes de emenda parlamentar estadual, apresentada pelo deputado Luiz Henrique Viana em 2019, no valor de R$ 100 mil. A verba será utilizada na compra de mobiliário e mostruários para acomodar o novo acervo, bem como na instalação de sistema de alarme.

O transporte do acervo para Piratini será realizado somente após a conclusão das melhorias físicas no museu. A denominação da coleção já foi escolhida e presta homenagem ao colecionador Volnir: Coleção Tchê Voni. A previsão de exibição pública das peças é setembro de 2020, ocasião que coincide com o retorno das obras pictóricas de grandes dimensões pertencentes ao museu e desde 2019 sendo restauradas pelo curso de Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a partir de acordo de cooperação técnico-científica firmado com a Sedac.

“Após alguns anos de trabalho, em 2011, na condição de produtora cultural, concluí o projeto que possibilitou a restauração completa do Museu Histórico Farroupilha de Piratini. Chegando à Sedac como secretária, meu primeiro ofício foi à UFPel, solicitando apoio para a restauração de duas obras de arte daquele museu, as quais estavam aguardando restauro num dos torreões do Margs há muitos anos e sem qualquer perspectiva de conclusão. Agora, com esta doação extraordinária e a qualificação das instalações do museu para recebê-las, penso que encerro um trabalho de mais de uma década, que por vezes me deu muita preocupação, mas também muitas alegrias. Nestas horas a gente percebe que todo o esforço é recompensado. Piratini agora passa a ser uma referência para pesquisadores e pessoas interessadas em conhecer um pouco mais da nossa história", comemora Beatriz.

O museu

Fundado em 1953, o Museu Histórico Farroupilha é considerado um pilar fundamental para construção da identidade gaúcha. Seu acervo é um dos principais narradores do episódio divisor de águas da história do Estado, a Guerra dos Farrapos, e a formação da República Rio-Grandense. Configura-se em uma matriz para pesquisas de valor histórico e científico e em equipamento cultural e turístico de Piratini.

Texto: Rafael Varela/Ascom Sedac
Edição: Secom

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