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Memorial abre documentos sobre investigação do Exército na sociedade civil pós-64

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Secretários da Cultura, Roque Jacoby e Educação José Fortunati presentes na abertura dos documentos secretos da época da ditadura pelo presidente do acervo da luta contra a ditadura, João Carlos Bona Garcia.
Ditadura - Foto: Paulo Dias/Palácio Piratini
Documentos do Ministério do Exército, de 1972, demonstrando fatos ligados à repressão política, foram abertos hoje, dia 13 de dezembro de 2004, data em que se lembram os 36 anos da edição do AI-50, no Memorial do Rio Grande do Sul pela Comissão do Acervo da Luta contra a Ditadura, abrigada no Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, e pela Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul. Ex-preso político, o juiz do Tribunal Militar do Rio Grande do Sul e presidente da Comissão, João Carlos Bona Garcia, distribuiu aos jornalistas 15 dos 40 documentos que chegaram à Comissão por iniciativa da jornalista Jurema Josefa que os teria recebido na redação do Correio do Povo das mãos de um desconhecido. Os documentos mostram que os órgãos que praticavam repressão política procuravam se infiltrar em todos os segmentos sociais à procura de informações. O sumário de informações 12/71, de 12 de fevereiro de 1971, por exemplo, sugeria o cadastramento de todos os cursinhos de madureza e pré-vestibulares, identificando e qualificando seus proprietários, dirigentes, professores e particularmente os já conhecidos auxiliares de ensino que neles pululam. O sumário, à folha sete, revela uma investigação sobre as atividades do então bispo Dom Hélder Câmara, em Recife e Olinda. Frases ditas por domésticas e prostitutas em que diziam desejar segurança, salário justo e, no caso das profissionais do sexo, querer a riqueza de um lar, ter filhos e ser amadas, foram registradas por um coronel em seu relatório. O documento possui um carimbo em que diz que qualquer pessoa que tomar conhecimento deste assunto fica responsável por seu sigilo. A informação 059-E-2/72 de primeiro de março de 1972 comenta a peça Missa Leiga, produzida por Ruth Escobar, mostrando que havia controle sobre os espetáculos, não só pela Censura Federal, mas também pelo Exército. Comentários sobre artistas como Chico Buarque, Nara Leão, José Carlos Capinam, Vinícius de Morais, Sérgio Ricardo, Edu Lobo, Gilberto Gil, Alaíde Costa e Milton Nascimento, entre outros, aparecem na informação 399-E-2/72 de 6 de novembro de 1972. No documento, é citado que Chico Buarque, autor de canções de protesto contra a Revolução de 1964 e hostil ao nosso Governo, vem promovendo seguidas apresentações na área estudantil, com grande receptividade em todas as faculdades onde realizou seus programas. O documento relata que há possibilidade de haver ligação entre as atividades na área estudantil e as previsões de agitação conseqüentes das resoluções firmadas em Varsóvia, pelo Comitê da União Internacional de Estudantes. E acrescenta: É conveniente acompanhar e observar essas atividades para neutralizar com oportunidade os efeitos negativos das mesmas, caso sejam constatados indícios de propaganda subversiva ou incitamento a agitações estudantis. Bona Garcia afirmou que esses e outros documentos estarão à disposição do público para consulta a partir de quinta-feira (16), na Comissão, no Memorial. Demonstrou preocupação pela necessidade de evitar que futuros documentos não sejam incinerados, como aconteceu na Base Aérea de Salvador, conforme demonstrou reportagem de um programa de TV neste domingo. O comissário de Polícia Altamiro da Silva Reis, aposentado em 1986, que trabalhou 18 anos no DOPS, em Porto Alegre, irmão do ex-diretor do Dops, Marco Aurélio Reis, e do chefe de Polícia, Leônidas da Silva Reis, revelou, na entrevista coletiva, que toda a documentação do Departamento de Ordem Política e Social foi microfilmada, e que há pelo menos duas cópias no Palácio da Polícia. Os documentos em papel foram incinerados, mas as informações foram preservadas pela microfilmagem. A apresentação dos documentos contou com a presença dos secretários da Cultura, Roque Jacoby, e da Educação, José Fortunati, do diretor-geral da Sedac, Victor Hugo, da diretora do Arquivo Histórico, Teniza Spinelli, do presidente da Assembléia Legislativa, deputado Vieira da Cunha, da ex-secretária da Cultura, Mila Cauduro, além de membros da Comissão, que participaram de fatos ligados ao regime militar, entre outras autoridades e familiares de desaparecidos políticos, como Suzana Lisboa.
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