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Homenagem a militares legalistas encerra a Semana da Democracia

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PORTO ALEGRE, RS, BRASIL, 04.04.14: Inauguração do Monumento do Nunca Mais - Homenagem à resitência e à luta pela anistia no Rio Grande do Sul. Com a fala, a autora da obra, Cristina Pozobom. Foto: Alina Souza/Palácio Piratini
Símbolo da liberdade, escultura em ferro recortado leva o nome de Monumento ao Nunca Mais - Foto: Alina Souza/Especial Palácio Piratini

Depois de cinco dias de atividades, a Semana da Democracia, promovida pelo Governo do Estado, chegou ao fim neste sábado (5). As atividades derradeiras - um painel de debates, o lançamento de dois documentários e de um monumento - versaram sobre a arte e sua relação com a ditadura militar.

"O papel instrumental da cultura é a sua vocação pedagógica. A luta pela democracia nunca esteve tão fortalecida", definiu o presidente da Comissão Nacional da Anistia, Paulo Abrão, ao descerrar a placa do Monumento Ao Nunca Mais, assinada pela artista plástica gaúcha Cristina Pozzobon, no terraço do Memorial do Rio Grande do Sul.

A escultura em ferro recortado é a sétima inaugurada entre as dez que serão, ao todo, erguidas em cidades brasileiras pelo projeto Trilhas da Anistia. Mostra a figura de uma ave pronta para alçar voo. “O pássaro é o símbolo da liberdade, significa o lugar melhor que estamos construindo”, definiu Cristina.

Homenagem
A cerimônia antecipou a emoção que marcaria a atividade seguinte. Como o memorial é uma homenagem àqueles que lutaram pelo fim da ditadura, foram convidados para dar seu depoimento alguns militantes da resistência democrática.

Duas falas se destacaram: a do Capitão José Wilson da Silva, em 1964 conhecido como Tenente Vermelho, e a da viúva do também oficial Alfredo Ribeiro Daudt, Doris Hartz Daudt. Ambos militares estão citados no documentário de Silvio Tendler "Os militares que disseram não", cuja estreia nacional ocorreu em Porto Alegre.

Foi, de certa forma, um desagravo a estas personalidades, que depois do Golpe de 1964 foram excluídas das Forças Armadas por defender a legalidade e o presidente João Goulart, mas que não tiveram o devido reconhecimento. "Hoje se fala muito ou nos torturadores – militares – ou nos guerrilheiros. Eu me sinto atingido por isso, pois os primeiros que foram cassados em 1964 foram os integrantes dos órgãos de segurança do Estado: militares, oficiais, funcionários. Eu estava entre eles", desabafou Silva.

“É interessante essa política de reconhecimento. Passados 50 anos finalmente somos recompensados por estarmos do lado correto. Tínhamos essa convicção, mas foi muito sofrido”, revelou a viúva de Daudt, falecido em 2007 vítima de Alzheimer. "Ele não teve a oportunidade de sentir essa emoção. Gostaria muito que estivesse aqui hoje", lamentou.

Filme
O diretor Silvio Tendler, cuja obra é marcada pela temática política, se disse orgulhoso do trabalho. "É uma situação muito pouco falada, pouco conhecida: as centenas de generais, capitães, soldados e tenentes que foram solidários ao Jango, que ficaram contra o golpe e pagaram caro por isso”, sublinhou.

O filme traz depoimentos de militares e familiares que relatam humilhações, torturas e arbitrariedades cometidas como retaliação a essa postura. Os aviadores, por exemplo, não apenas foram excluídos da Aeronáutica como tiveram cassadas as suas permissões de conduzir. “Era impedir a gente de viver”, lembra um dos depoentes da película.

Canção liderou resistência artística
Se na atualidade o cinema e as artes plásticas são responsáveis pelo resgate da memória dos Anos de Chumbo, enquanto eles estavam vigentes foi a canção que liderou a resistência da arte. "A literatura precisava de muito tempo para ser produzida e o teatro foi muito visado por ser esta manifestação quente que é. A canção, por outro lado, tinha uma capacidade de dar uma resposta imediata e era acessível até para os analfabetos", explicou o escritor e professor Luís Augusto Fischer.

Para o compositor Nei Lisboa, que forjou sua identidade de artista em meio a desaparição do irmão mais velho, militante de esquerda, Ico Lisboa, a música permitia uma reflexão sobre a realidade daqueles tempos. "Era o espaço do diálogo, da resistência. Era o artesanato da palavra, que reduziu muito atualmente, com a magnitude da Indústria Cultural", comparou.

Neste sentido, o também cantor Nelson Coelho de Castro relatou que ter uma música proibida pelos militares "era como ganhar uma medalha". Mais ainda quando a adaptação da letra censurada – que relatava casos de tutela e de agressão – deixava de se referir ao país para atribuir todas as mazelas aos marcianos. "Era tão primário", lembrou, dando risada.

Texto: Naira Hofmeister
Edição: Redação Secom (51) 3210-4305

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