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Comissão Estadual da Verdade ouve relatos de mulheres torturadas pelo regime militar

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08.03.13: Audiência Pública, intitulada Mulheres na resistência à ditadura - relatos à Comissão Estadual da Verdade. Depoimento da Ignez Maria Serpa Ramminguer.
Relatos à Comissão Estadual da Verdade - Foto: Alina Souza/Especial Palácio Piratini

A Comissão Estadual da Verdade realiza durante todo o dia, nesta sexta-feira (08), sua primeira audiência pública desde a instalação do colegiado. O encontro ocorre no auditório da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris), em Porto Alegre, e prossegue até as 21h. Intitulada Mulheres na resistência à ditadura - relatos à Comissão Estadual da Verdade, a reunião é alusiva à passagem do Dia Internacional da Mulher, com depoimentos de três gaúchas presas e vítimas de torturas durante o regime militar (1964-1985). A entrada é gratuita.

A abertura da atividade foi marcada por um depoimento emocionado e esclarecedor da ex-militante do Partido Operário Comunista (POC) nas décadas de 60 e 70, Ignez Maria Serpa Ramminger. Martinha, como é conhecida, relatou aos integrantes da comissão as torturas e graves violações que sofrera durante o período em que esteve presa pelo antigo regime, entre abril de 1970 e 1971.

Ao lembrar as violentas sessões de tortura praticadas na antiga sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em Porto Alegre, Martinha emocionou-se e precisou interromper seu depoimento por diversas vezes. Era inadmissível que um ser humano tratasse outro ser humano daquela maneira. Tratava-se de uma tortura de degradação. A tática dos torturadores era botar a pessoa pra baixo e desmoralizá-la completamente, declarou, ao recordar dos choques recebidos, pauladas, bofetadas e xingamentos.

A ex-militante lembra que as mulheres sofriam mais com as agressões, pois eram vítimas de uma tortura específica. Eles pegavam pesado na parte sexual e nos obrigavam a despir-nos, tomar banho ou fazer nossas necessidades na frente deles. Uma sensação horrível, relatou, citando os nomes dos seus agressores. Eram pessoas muito sádicas. Martinha também recordou a atuação da militância na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Nós estávamos naquela luta porque acreditávamos em uma transformação social. Não estávamos de brincadeira, queríamos uma revolução.

Para o coordenador da comissão, Carlos Frederico Guazzelli, o relato de Ignez Ramminger comprova o fato de as mulheres terem sido vítimas de sessões específicas de tortura. Ficou claro que existia uma tortura brutal e específica contra as mulheres na questão sexual. Única mulher da comissão, Céli Regina Jardim Pinto considerou o depoimento um marco na história do Estado. Este é um momento fundamental para a história do Brasil e do Rio Grande do Sul, disse Céli ao elogiar a coragem da depoente.

Representando o governador Tarso Genro na reunião, o chefe da Casa Civil, Carlos Pestana, parabenizou o trabalho desenvolvido até agora pela Comissão Estadual da Verdade. Este empenho marca o compromisso de buscar a verdade e colocar luz sobre esse período sombrio que foi a ditadura militar.

Durante a tarde, a comissão irá colher os depoimentos de mais duas mulheres que participaram do período. Às 13h30, falará Nilce Cardoso Azevedo e, às 19h, Eliana Lorenz Chaves. Os relatos são gravados e comporão o relatório final que será entregue para a Comissão Nacional da Verdade e para o Arquivo Público Estadual, ao final de 20 meses de trabalho.

Texto: Juliano Pilau
Foto: Alina Souza/Especial Palácio Piratini
Edição: Redação Secom (51)3210-4305

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