Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Início do conteúdo

Colégio Estadual Cândido Godói homenageia Oliveira Silveira, criador do Dia da Consciência Negra, com busto e biblioteca

A cerimônia renomeou o espaço cultural e celebrou o legado do poeta e professor gaúcho

Publicação:

Diversas pessoas estão reunidas em torno do busto recém-inaugurado do poeta Oliveira Silveira. Elas batem palmas e sorriem para a foto.
Autoridades e convidados compareceram para a inauguração do busto do professor, poeta e militante Oliveira Silveira - Foto: Gustavo Perez/Ascom Seduc

O dia chuvoso não reduziu o ânimo daqueles que estavam reunidos, ao longo da manhã desta sexta-feira (22/8), para prestar uma homenagem a um dos maiores nomes do movimento negro no Brasil. O pátio interno do Colégio Estadual Cândido de Godói, localizado no bairro Navegantes, em Porto Alegre, recebeu autoridades e convidados para a cerimônia de inauguração do busto do professor, poeta e militante Oliveira Silveira.

Iniciativa da Secretaria da Educação (Seduc), o evento foi promovido por meio do Núcleo de Políticas Educacionais para a Equidade e do Núcleo de Bibliotecas, Livros e Leitura, em um ato de celebração à memória e ao legado de Oliveira Silveira na literatura e na luta pela equidade racial. A programação também teve o objetivo de destacar o compromisso da Rede Estadual com uma perspectiva inclusiva, diversa e pautada na educação das relações étnico-raciais.

A solenidade contou com a presença da secretária da Educação, Raquel Teixeira, da secretária de Educação Básica do Ministério da Educação, Kátia Schweickardt, e da superintendente do Itaú Social, Patrícia Mota Guedes, além de representantes de instituições parceiras. Participaram também a filha do poeta, Naiara Rodrigues Silveira, e a professora da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), pesquisadora do grupo Crianegra/CNPq e integrante do Instituto Oliveira Silveira, Sátira Pereira Machado.

Figura central na defesa da valorização da cultura afro-brasileira e no combate ao racismo, Oliveira Silveira também foi um dos idealizadores do Dia da Consciência Negra (20 de novembro), hoje feriado nacional em referência a Zumbi dos Palmares. Sua obra literária é marcada pelo engajamento e pela afirmação identitária, ressaltando o senso de coletividade, de ancestralidade e de preservação da memória. 

Atuação nas salas do Colégio Godói

A escolha do Colégio Cândido Godói tem ainda um significado especial, pois Oliveira Silveira, além de ter sido ex-aluno da Rede Estadual, também foi uma referência para essa comunidade escolar. Por mais de 30 anos, entre as décadas de 1960 e 1990, ele dedicou sua atuação docente às salas de aula do Cândido Godói, lecionando língua portuguesa e literatura brasileira para gerações de estudantes.

Em sua fala, Raquel destacou esse simbolismo, demonstrando a dimensão histórica do Colégio Godói, lugar onde atuaram outros educadores vinculados ao movimento negro. “É um privilégio para esta escola ter sido a sede de um professor e intelectual como Oliveira Silveira. Aqui também atuou a professora Petronilha Gonçalves e Silva, mobilizadora das diretrizes nacionais para as relações étnico-raciais. Esses nomes projetam a educação do Rio Grande do Sul para além de nossas fronteiras”, ressaltou.

A secretária da Educação está posicionada ao lado esquerdo da imagem. Ela está em pé, falando ao microfone para uma plateia sentada, que a escuta atentamente.
A secretária da Educação, Raquel Teixeira, destacou a dimensão histórica da escola, lugar onde o poeta atuou por mais de 30 anos - Foto: Gustavo Perez/Ascom Seduc

A professora Petronilha Gonçalves e Silva também participou do evento, abordando justamente a experiência de exercer a docência no Colégio Godói. Ela relembrou a convivência e os momentos de escuta. “Foi uma experiência muito rica trabalhar com colegas, servidores, estudantes e famílias. A escola sempre foi um espaço de diálogo e construção coletiva”, comentou.

Marcas que permanecem

Para Naiara Silveira, revisitar o espaço onde seu pai trabalhou é uma oportunidade de trazer à tona recordações pessoais e afetivas. “Hoje não falo apenas do poeta, mas do professor que passou a vida profissional nesta escola. Sabe o que é uma pessoa ficar numa escola até a sua aposentadoria? Que energia tem esse espaço que acolhe, que atrai o profissional para ficar tantos anos da sua vida? É sinal que essa escola é muito especial,” enfatizou.

Ela contou que cresceu acompanhando os passos de Oliveira Silveira no Colégio Godói. “Esta escola, para mim, era extensão da minha casa. Participei das feiras das nações, sempre vindo com meu pai. Estar aqui me dá um conforto, um carinho muito especial,” disse.  

O diretor da escola, Marcus Vinícius Sobotyk, acrescentou que a marca deixada por Oliveira Silveira persiste até hoje como o modelo pedagógico que guia as atividades do colégio. “Ele nos ensinava a pensar criticamente, a questionar o mundo e a buscar a verdade. Ele nos mostrou que a educação é a maior ferramenta para a transformação, tanto individual quanto coletiva”, afirmou.

Reinauguração da biblioteca

Além disso, a biblioteca da escola, que foi diretamente atingida pelas enchentes de 2024, também foi reinaugurada, passando a se chamar Biblioteca Professor Oliveira Silveira. A sala foi equipada com tecnologia digital, unindo os recursos tradicionais de um lugar de leitura com um sistema de ferramentas on-line, alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

Segundo José Carlos Ramos, representante da empresa que criou os equipamentos, a proposta é oferecer uma experiência além do acesso a livros.  “À primeira vista, parece uma biblioteca comum, como todos conhecemos. Mas, na verdade, trata-se de um espaço inovador, pensado para o desenvolvimento de atividades pedagógicas”, explicou.

Quem foi Oliveira Silveira

Nascido em 1941, na área rural da cidade de Rosário do Sul (RS), Oliveira Ferreira da Silveira mudou-se para Porto Alegre em 1959. Na capital gaúcha, passou a maior parte da vida, tendo se formado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Além de poeta e professor, foi historiador e ativista da memória negra.

Imagem em detalhe do busto do poeta Oliveira Silveira.
Oliveira Silveira foi uma figura central na defesa da valorização da cultura afro-brasileira e no combate ao racismo - Foto: Gustavo Perez/Ascom Seduc

Na década de 1970, foi um dos fundadores e integrantes do Grupo Palmares. O coletivo negro, ao pesquisar a potência simbólica da história do Quilombo dos Palmares, propôs a substituição do 13 de Maio (data da abolição da escravatura) pelo 20 de Novembro (data atribuída à morte de Zumbi dos Palmares) como dia de luta e celebração da resistência negra. 

A ideia de ressignificação ganhou força e se espalhou. Em 1978, o Movimento Negro Unificado oficializou a data como Dia da Consciência Negra.

Produção intelectual

Em paralelo às atividades docentes na Rede Estadual, onde se tornou professor após ser aprovado em um concurso público, desenvolveu uma intensa produção intelectual. Autor de diversas obras poéticas, Oliveira Silveira publicou ainda artigos, reportagens e alguns contos e crônicas, trazendo uma perspectiva de afirmação e reivindicação da identidade negra.

Teve reconhecimento nacional, recebendo em vida uma série de distinções. Faleceu em 2009, aos 68 anos, deixando um legado como educador, poeta e referência na luta antirracista no Brasil.

Texto: Ascom Seduc
Edição: Camila Cargnelutti/Secom

Portal do Estado do Rio Grande do Sul