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Artigo: Estupro. Nossa culpa?, por Ariane Leitão

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“Homem que bate na esposa merece ir para a cadeia. Eles não podem xingar e gritar com suas próprias companheiras. Caso isso aconteça, o problema deve ser discutido somente entre os membros da família, afinal, roupa suja se lava em casa”. As contradições estão na pesquisa em relação à tolerância social à violência contra as mulheres divulgada recentemente pelo IPEA. Os números ainda revelam que 65,1% dos que responderam à pesquisa acreditam ser as mulheres que mostram demais o corpo, com roupas curtas, as responsáveis pelos ataques e estupros que sofrem.

A vida privada, o corpo e a sexualidade das mulheres brasileiras ainda são tabu. Embora a Lei Maria da Penha tenha trazido avanços inegáveis em relação à violência de gênero, tornando o debate público, as respostas evidenciam um cenário alarmante, mas não surpreendente. O patriarcado permanece como conceito dominante de organização familiar, 64% concordam que o homem deve ser o cabeça do lar, e a partir dele constatamos o porquê de tantas mulheres sentirem-se ameaçadas dentro de sua própria casa.

A opressão masculina gera uma privacidade criminosa que macula a família, quando 70% das vítimas gaúchas de violência sexual são meninas, principalmente aquelas entre 10 e 14 anos, conforme dados das unidades de saúde. É contraditória a opinião que retrata a pesquisa, afinal "merecem serem estupradas as mulheres que mostram o corpo". Por que então são as meninas as principais atacadas? Moralismo conservador que insiste em subjugar as mulheres, tornando-nos culpadas pela violência a qual somos vítimas. Ninguém pode ser atacada! Repressão social que determina o comportamento feminino de acordo com padrões pré-estabelecidos, que compromete nossa liberdade, nossa autonomia.

O corpo da mulher é objeto de desejo, mas também de posse. A sensualidade brasileira é objeto comercial, mas quando tratamos de sexualidade, de liberdade sexual a realidade é outra. Às mulheres recato, aos homens iniciativa. É o que a ordem desigual nos impõe. Àquelas que se opuserem serão julgadas, penalizadas, violentadas. Enquanto aos homens o furor sexual e os arroubos biológicos são justificativas para atos criminosos. Inaceitável!

Políticas públicas que promovam a transformação social, poder público e sociedade civil são forças motrizes do processo civilizatório. Não é possível reduzir séculos de subjugação das mulheres à instituição de leis mais severas e mais prisões. A visibilidade ao tema de gênero e à luta cultural que estamos estabelecendo será possível com mais recurso para a criação de espaços específicos que garantam os direitos humanos femininos.

Com mais mulheres nos espaços de poder, com uma educação não sexista, produziremos consciências individuais e coletivas. Só a mobilização constrói mudanças. Toda a violência contra a mulher deve ser denunciada, publicizada, combatida. Disque 0800-541-08-03 e denuncie. Afinal, uma vida sem violência é direito de todas as mulheres.

Ariane Leitão,
Secretária de Políticas para as Mulheres

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