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Presidente da Fapergs disposto a lutar por mais investimentos no setor

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Fapergs
Abilio Baeta Neves está disposto a lutar pelo aumento dos investimentos no setor - Foto: Daniela Barcelos

De volta ao comando da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do 
Sul (Fapergs), da qual foi diretor-presidente e diretor científico entre 1987 e 
1990, o cientista político Abilio Baeta Neves está disposto a lutar pelo aumento 
dos investimentos no setor, como condição para que o Estado comece a sair 
da crise econômico-financeira que enfrenta. Neste sentido, afirma que a 
comunidade científica precisa manter-se mobilizada em torno da agência de 
fomento, como ele classifica a entidade que preside desde 14 de maio 
passado.

Em entrevista especial, o ex-presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento 
de Pessoal de Nível Superior (Capes), orgão federal, explica as dificuldades 
que a Fapergs enfrentará frente à política de contenção de gastos do governo 
do Estado e a importância da instituição ser transparente para manter os 
pesquisadores gaúchos mobilizados.


O senhor foi diretor-presidente e científico entre os anos de 1987 e 1990. Portanto, conhece os trâmites e particularidades que permeiam as atividades da Fundação. O que pretende fazer para que ela volte a liderar a pesquisa científica?

Aumentar a credibilidade junto à comunidade acadêmica e aos parceiros como 
uma agência de fomento. Uma agência de fomento só existe se ela fomenta. 
Se o faz pouco ou de modo irregular, vai perder credibilidade. A Fapergs tem 
se mantido em um patamar de médio para baixo no que diz respeito à 
amplitude de investimento. No último governo, tivemos o período mais estável 
de financiamento, ainda assim abaixo, comparativamente, a outras entidades 
do setor, com as quais o Rio Grande do Sul pode competir. A primeira meta é 
criar um círculo virtuoso que torne a Fundação sustentável e com perspectiva 
de crescimento. O Estado investe pouco na área em comparação com os 
investimentos federais. Por isso, temos baixa capacidade de liderar um 
processo, de imprimir objetivos próprios, de induzir a pesquisa na direção do 
que é essencial para desenvolver o Estado.


Em 2015, a fusão das áreas de desenvolvimento econômico, ciência e 
apoio à micro e pequena empresa formaram a Secretaria de 
Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (Sdect). Qual é o 
papel da Fapergs na retomada do crescimento econômico estadual?

Hoje, é absolutamente consensual a necessidade de colocar a pesquisa 
científica e tecnológica a serviço do desenvolvimento econômico e social. Isso 
se faz por meio da inovação e da transferência efetiva do conhecimento 
produzido na pesquisa para o setor produtivo. Nesse contexto, o papel da 
Fapergs é o de incentivar a ampliação da comunidade acadêmica ao mesmo 
tempo em que mantém a sociedade disposta a produzir pesquisa para os 
interesses do Estado. Não significa que ela vá se tornar uma agência de 
fomento exclusiva à pesquisa aplicada. Trata-se de saber identificar prioridades 
e mobilizar a comunidade científica, com recursos e com liderança, para que a 
maior energia seja gasta nas prioridades da população gaúcha.


Em estados que são referência no fomento à ciência e tecnologia, como 
São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o retorno do investimento em 
pesquisa é significativo para a economia. Qual a importância do Rio 
Grande do Sul concentrar mais recursos no setor?

O retorno é diretamente relevante. É um ponto que não prestamos atenção e 
que ainda não estamos convencidos. Vemos ciência como objeto de consumo, 
não como compromisso social e da elite política para transformar a pesquisa 
em desenvolvimento. A própria economia e a transformação da sociedade 
gaúcha só ocorreram nos últimos tempos por conta disso. O setor de 
agronegócio, que sustenta o PIB há décadas, teve o desenvolvimento marcado 
pela absorção de conhecimento científico e tecnológico, conforme apontam 
pesquisas de universidades, da Embrapa e da Fepagro. Ou seja, sem 
capacidade de produção e transferência de saber, não teríamos o agronegócio, 
nem de longe. Outras áreas também comprovam a importância da relação 
economia, sociedade e desenvolvimento científico, como a informática e o 
setor metal-mecânico, essencialmente ligados à pesquisa acadêmica. Por 
alguma razão esotérica, não absorvemos a realidade de que o 
desenvolvimento deriva do sucesso da pesquisa. Mas não colocamos como 
prioridade, o que é trágico.


O Estado vive um momento complicado de endividamento em que todos os setores da sociedade precisam mobilizar esforços para a contenção de gastos. Quais as dificuldades que a Fundação enfrentará nos próximos quatro anos?

Vamos enfrentar dificuldades neste ano, mas a partir de 2016, espero uma 
perspectiva diferente. Sabemos que 2015 será um ano duríssimo, a contenção 
não é apenas estadual, mas também nacional. O Rio Grande do Sul que 
sempre se beneficiou de grandes investimentos federais, vai se ressentir. Se o 
dinheiro da União diminui, acontece o mesmo aqui. Mais uma razão para que 
voltemos a pensar em mecanismos e instrumentos sustentáveis. Precisamos 
de criatividade para identificar novas fontes de financiamento e esperamos 
conseguir alguma coisa diferente ao longo do ano.


O investimento em ciência e tecnologia é uma alternativa para sairmos 
da crise?

Em época de crise, a atividade científica e tecnológica perde para a urgência 
do investimento em saúde, educação e segurança. Isso é um equívoco que 
nenhuma grande economia moderna faz. Exatamente porque para sairmos da 
crise é preciso aumentar os investimentos no setor, não difusamente, mas em 
convergência com as necessidades e potencialidades da própria economia. 
Ninguém sai da crise hoje sem aumentar a competitividade e a produtividade, 
com a geração de conhecimento, tecnologia e inovação, fatores que, por sua 
vez, derivam da qualidade dos recursos humanos e da pesquisa desenvolvida 
aqui. Andamos para trás quando pensamos que existe um conflito entre investir em ciência ou em saúde. O Rio Grande do Sul apenas avança perifericamente em relação ao ritmo das economias mais fortes do Brasil.


É possível mudar o pensamento preponderante na sociedade gaúcha de 
que o investimento científico compromete os recursos para áreas 
essenciais?

Se a gente não mudar esse pensamento, nós vamos afundar. Há uma 
disposição honesta do atual governo de lidar com esses problemas, com o fato 
de que temos um Estado em crise e que precisamos buscar as alternativas 
mais consistentes para enfrentar o problema. Se não absorvermos na ordem 
das prioridades a questão da ciência e tecnologia, vamos andar para trás.
 

Como fazer para se aproximar do patamar de potências em ciência e 
tecnologia como São Paulo e Rio de Janeiro?

Em primeiro lugar, é preciso ter clareza do que realmente é prioritário e de 
como chegaremos lá. Se continuarmos achando que falar em pesquisa é uma 
coisa difusa, genérica, sempre teremos dificuldade de vender o discurso como 
prioritário. Precisamos entender - como os países desenvolvidos já 
entenderam e a melhor experiência brasileira, São Paulo, nos mostra -, que é 
fundamental falar de ciência e tecnologia em convergência com os desafios a 
serem enfrentados. Segundo, é necessário mobilizar, em rede, os recursos 
humanos para construirmos projetos consistentes. Por último, devemos abrir a 
fronteira para parcerias internacionais e entrar na dinâmica do financiamento 
internacional. Ou seja, a gente tem que sair da zona de conforto e ir à luta.


Texto: Gonçalo Valduga/Fapergs
Edição: Léa Aragón/CCom

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